Queimadas atingem propriedades rurais e áreas florestais no interior de RR; Estado lidera ranking de focos de calor em fevereiro

Queimadas atingem propriedades rurais e áreas florestais no interior de RR; Estado lidera ranking de focos de calor em fevereiro

No entanto, o cenário não se resume ao município de Amajari. Até esta segunda-feira (19), Roraima ocupava o primeiro lugar no ranking de focos de calor de fevereiro de 2024, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa espaciais (INPE). No total, foram 613 focos (veja detalhes mais abaixo).

O g1 esteve no município do Amajari, que lidera o ranking de municípios com focos de calor, para acompanhar o trabalho da Defesa Civil Municipal e voluntários no combate às chamas no Projeto de Assentamento (PA) Amajari, uma das áreas mais atingidas da região. Lá, produtores rurais são os mais afetados pelo problema.

“O prejuízo é incalculável, uma dimensão que não dá para se comparar”, lamentou o produtor Francisco da Cruz, de 56 anos.

Atualmente, Roraima enfrenta o período de seca, agravado pelo fenômeno El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico e freia a atuação de frentes frias no Brasil. Por conta disso, incêndios e queimadas tendem a se espalhar com facilidade.

Conforme o governo de Roraima, foram expedidas apenas 2 licenças para queima controlada, o que demonstra que o fogo que atinge a região é de origem criminosa.

Gado foge do fogo em Amajari, Norte de Roraima — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

As chamas chegaram no PA Amajari há 20 dias, segundo moradores, mas na última segunda-feira (12), o fogo se espalhou e se aproximou das propriedades rurais. Uma delas foi a do produtor rural Francisco da Cruz, conhecido como Chico da Cruz. Na propriedade dele, um bezerro recém-nascido morreu e outro ficou ferido.

“A gente não dorme nem de noite e nem de dia tentando combater esse fogo. Então, é uma coisa incontrolável esse fogo, é uma medida desproporcional que não tem como o ser humano chegar nem na frente para combater o fogo. O que tem na frente ele vai levando, é casa, é animais, vai prejudicando tudo e a gente está nessa situação”, contou.

Franciso da Cruz, conhecido como Chico da Cruz, perdeu um bezerro recém-nascido — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Ao g1, ele relatou que as chamas se aproximaram da casa dele e consumiram a cerca da propriedade que continha os animais, com isso as 200 cabeças de gado estão soltas pela estrada.

Agora, a preocupação é como alimentá-los, isto porque o fogo destruiu todo o pasto dos animais. O produtor disse ainda que não consegue transportar o gado para outro local, pois a outra propriedade dele também foi destruída pelas chamas.

“A gente não tem como alimentar esses animais, a gente espera que o poder público, não sei, possa ajudar a gente de uma forma ou de outra para gente comprar um alimento para não deixar morrer esses animais, mas está difícil porque são muitos”, lamentou.

Projeto de Assentamento Amajari é atingido por queimadas — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Além de Chico da Cruz, outro produtor afetado pelo problema é Francisco Marcos de Oliveira, de 77 anos. Há mais de 30 anos morando no PA Amajari, ele relembra que não é a primeira vez que o município é atingido por grandes incêndios, mas que teme os próximos dias devido ao período seco.

O produtor também perdeu pasto e cria mais de 100 cabeças de gado, porcos e galinhas. Além da falta de alimentação para os animais, o morador relata dificuldades no dia a dia devido à fumaça intensa.

“Muito fogo, muita fumaça, parece que vai se acabar tudo. E de noite para dormir? Com olhos cheio de fumaça? Chega arde na gente, mas vamos levar até o final”, disse.

“Enquanto não chover para melhorar as coisas aqui, o sofrimento é grande. Para gente nem tanto, eu fico com dó dos bichinhos, quando ver eles berrando assim é porque estão com fome”.

Francisco Oliveira perdeu parte do pasto — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Devido à estiagem, Amajari decretou situação de emergência no último dia 18 de janeiro. O decreto assinado pela prefeita Núbia Lima (Progressistas) prevê que órgãos do municípios devem atuar, nas ações de prevenção, resposta ao desastre e reabilitação.

Com o decreto, é autorizada a dispensa de licitação. O texto instituiu ainda o Comitê Municipal de Gestão de Crise para enfrentamento da Situação de Emergência Pública. O decreto é válido por 180 dias, a contar da data da publicação.

Entre as regiões mais afetadas pelo fogo, além do PA Amajari, estão Trairão, Tepequém, Bom Jesus, Leão de Ouro, Santa Inês e Ametista. O município solicitou ajuda do governo federal e aguarda reconhecimento, segundo a prefeita.

“A gente está esperando essa ajuda do governo nacional para que a gente possa amenizar tudo que está acontecendo dentro do município […] A gente não está tendo controle da situação do fogo, mas estão presentes Defesa Civil Municipal, Estadual, Corpo de Bombeiros, Femarh [Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Roraima]”.

Brigadistas da Defesa Civil Municipal tentam conter queimadas em Amajari — Foto: Oséias Martins/Rede Amazônica

Segundo o governo de Roraima, ainda no último final de semana, o município de Amajari partiu de 0 focos a 110 focos de incêndio. Foram realocadas mais quatro equipes para reforçar os combates na região, com mais 24 bombeiros, além das equipes do Prev Fogo, e da equipe de brigadistas da Defesa Civil Municipal.

Desde o início da operação Verão Seguro, em 16 de outubro de 2023, já foram combatidos 769 incêndios em todo o Estado, e feito mais 5.331 ações preventivas, que compreendem visitas e vistorias nas áreas rurais, objetivando a prevenção e conscientização das queimadas.

“O Estado de Roraima possui uma vasta área agrícola e cobertura vegetal nativa, onde o uso do fogo pela população é comum. No entanto, este ano, mesmo com as condições climáticas de seca, a população ainda insiste em fazer uso do fogo sem o devido controle, e muitas vezes de forma ilegal. A questão cultural do uso do fogo para a limpeza ainda é um desafio, que deverá mudar não só pela fiscalização e controle do Estado, mas pela conscientização de que o fogo descontrolado só causa prejuízo”, destacou o governo.

Atuação da Defesa Civil Municipal

Brigadistas e voluntários apagam fogo em Amajari — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

A Defesa Civil e os brigadistas voluntários têm feito ações para controlar as chamas que atingem o município. Porém, com os ventos e o tempo seco, as chamas se espalham rapidamente pela região. No sábado (17), o g1 acompanhou o trabalho da equipe ao tentar apagar o fogo que se aproximava de uma propriedade.

Além da água, entre as estratégias usadas para conter as chamas estão o contrafogo, que é quando se usa o próprio fogo para encontrar outra chama e assim controlar o incêndio, e os aceiros, que são faixas de limpeza da vegetação, para tentar impedir o avanço do fogo.

Voluntário se prepara para combater chamas no PA Amajari — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

O período seco e os fortes ventos são agravantes, mas a Defesa Civil Municipal enfrenta outro desafio: poucas equipes para atender a região. No PA Amajari, quatro brigadistas e voluntários correram contra o tempo para tentar impedir o avanço das chamas.

“Quando eu chego a noite do combate tem vários chamados, eu passo para o Disk Queimadas, para a equipe do Corpo de Bombeiros que está na sede. A equipe do Bombeiros tem duas equipes dentro do município, só que não estão dando conta, a realidade é essa […] Mesmo tendo a brigada do Prevfogo, a questão é: fogo para todo lado”, explicou Chaguinhas Soares, coordenadora local da Defesa Civil no Amajari.

Sinésio Lima é um dos voluntários no combate aos incêndios — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Entre os voluntários está o caseiro Sinésio Lima, de 43 anos. Com uma bolsa de água, chapéu e outros equipamentos nas costas, ele, que mora próximo ao local dos incêndios, se prepara para auxiliar os brigadistas.

“É um ajudando o outro, os vizinhos, fazendo aceiro. Mandaram chamar o corpo de Bombeiros e estão com oito dias que estão aqui, ainda bem que vieram […] Se fosse só nós, não dava conta não”.

Para a coordenadora, a principal causa dos incêndios é o mau uso do fogo. Soares suspeita que as chamas tenham começado a se espalhar do Platô — um dos pontos mais altos da região –, localizado na vila do Tepequém, a região mais turística de Roraima. Com as queimadas, a vila está encoberta por fumaça.

Tepequém está encoberta por fumaça — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Queimadas e período seco em Roraima

O monitoramento do INPE aponta que Roraima lidera o ranking de focos de calor até esta segunda-feira (19). Foram registrados 613 focos no estado, 77 a mais que o segundo lugar, que ficou com estado de Mato Grosso, com 536 registros. Em terceiro está o Pará, com 170 focos.

Os focos de calor são zonas que há ressecamento e elevação de temperatura que podem ocasionar incêndios. Roraima enfrenta o período de seca, que deve se estender até abril.

Além de ocupar o primeiro lugar no ranking como o estado que mais registrou queimadas nos primeiros meses de 2024, Roraima tem 7 dos 10 municípios do Brasil com os maiores focos.

Ranking de focos de calor

De 01/02 até esta segunda-feira (19/02)

Fonte: Programa Queimadas – Inpe

No dia 9 de fevereiro, o Ministério do Meio Ambiente declarou estado de emergência ambiental para riscos de incêndios florestais em Roraima entre os meses de setembro de 2024 a abril de 2025.

Na ocasião, o governo de Roraima informou que instituiu a Operação Verão Seguro e tem acompanhado as mudanças climáticas e adotando medidas estratégicas para minimizar as consequências da seca e da estiagem à população dentro do que compete a cada entidade do Executivo estadual.

O período seco também tem afetado o nível do Rio branco, responsável pelo abastecimento de água na capital. Atualmente, o nível do rio está em – 0,06 centímetros – média considerada baixa. Em 2016, quando o estado enfrentou uma das piores secas da história, o volume de água ficou em -59 centímetros.

Fogo se espalhou pelo município — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Queimadas atingem o município de Amajari — Foto: Oséias Martins/Rede Amazônica

Placas na Serra do Tepequém, no Amajari — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Link original da notícia: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2024/02/20/queimadas-atingem-propriedades-rurais-e-areas-florestais-no-interior-de-rr-estado-lidera-ranking-de-focos-de-calor-em-fevereiro.ghtml

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