411 anos de São Luís: conheça a variedade do cenário musical da capital maranhense

411 anos de São Luís: conheça a variedade do cenário musical da capital maranhense

411 anos de São Luís: conheça a variedade do cenário musical da capital maranhense

Nos seus 411 anos, celebrados nesta sexta-feira (8), a capital maranhense apresenta uma beleza única, mas, desde sua fundação, empreendida por franceses – sem caso paralelo no Brasil – demonstra seu caráter inovador.

É a terra dos poemas; da vanguarda intelectual. Dos juçarais e buritis, em sua vegetação. Da música, enfim, cuja variedade espelha as muitas cidades em uma cidade. Do reggae, do coco, do samba, do forró. Das “sofrências”; da pulsão dos gêneros afro-brasileiros.

Som universal: o rock

A vida musical em São Luís exprime a diversidade que há também em seu povo. Em princípio, durante a monarquia, as elites culturais e econômicas da cidade travavam conflitos com a rebeldia artística da porção mais pobre da população – composta, em sua maioria, por pessoas escravizadas.

Com as mudanças ocorridas no século XX, e, especialmente, após a ascensão do rádio no Brasil, isso começou a mudar. Nesse período, a separação por classes que existia entre gêneros musicais foi diminuindo, e pobres e ricos passaram a consumir a arte de forma mais abrangente.

A chegada à cidade de gêneros musicais apreciados no mundo, como reggae e o rock, representou ainda um novo conjunto de valores aos sons originários da ilha, apesar de certo estranhamento.

O processo de aceitação de ambos os gêneros, em São Luís, aconteceu, mas foi estigmatizado, no início. No reggae havia o preconceito classista e racial. Já o rock era mal compreendido e poucos tinham a consciência dos que produziam o som.

Desde a origem, o rock se espalhou sem se importar com barreiras. Na capital, não foi diferente: houve entusiasmo com o som eletrificado e pulsátil. A criação e a consolidação de formas mais pesadas do ritmo, como o Hard Rock e o Heavy Metal, puseram o amor pelo gênero, na cidade, em um outro lugar.

Nos anos 1980, a cena rock foi estabelecida. Bandas como Ácido e Lúgubre foram pioneiras, seguidas por outros grupos, como Tanatron e Ânsia de Vômito. Este processo, não sem percalços, trouxe unidade aos fãs do gênero.

“A característica mais marcante dos grupos maranhenses é a resistência. Se manter vivo tocando uma vertente [musical] que, na maioria das vezes, é invisibilizada de incentivos e apoio é algo admirável. Vários grupos ludovicenses estão conseguindo, ao longo do tempo, ultrapassar as barreiras e muito nomes chegam a tocar em vários lugares pelo Brasil e até fora do país”, destaca André Nadler, jornalista e vocalista da banda Basttardz.

Andre Nadler (vocalista), Inaldo Costa (guitarra), Adriano Ayan (contrabaixo) e Gabriel Matos (bateria) formam a Basttardz — Foto: Divulgação

Com uma trajetória de êxito no rock, Nadler é um dos mais notáveis representantes do gênero, em São Luís. Em uma carreira longeva, com mais de uma década, pavimentou seu caminho em um cenário inicialmente adverso. Hoje, após apresentar-se em várias capitais brasileiras e fora do país, ele avalia da seguinte maneira o valor da cidade em seu som:

“Acredito que é possível afirmar que as muitas sonoridades produzidas aqui na cidade fazem com que todo músico nascido aqui beba de uma fonte extremamente rica e com mil possibilidades. No final das contas, tudo que você ouve constantemente acaba te influenciando, de uma forma ou de outra. Sendo assim, acho que desde o Tambor de Crioula, até o reggae produzido por aqui, acabam somando no meu trabalho, das mais diversas formas”.

Sobre o prosseguimento da cena de rock, na capital, e os desafios ainda impostos aos artistas dedicados ao gênero, André Nadler assinala que ainda é preciso valorizar mais o trabalho local.

“Acho que a gente vive um efeito “gangorra” aqui na cidade. Já vi o rock em momentos mais efervescentes, mas também vi momentos mais frios. As adversidades acabam mudando com o passar do tempo, mas principalmente para quem faz música de protesto e de forma autoral, é sempre um desafio dar continuidade para o trabalho. A falta de espaços para as apresentações das bandas, de cachês e remuneração para sustentar o trabalho e até o suporte e reconhecimento do grande público são alguns desafios que precisam ser ultrapassados”, reflete.

Teatro: nobreza popular

Em meados do século XIX, o principal teatro da cidade, chamado na época de teatro São Luís (hoje, teatro Arthur Azevedo), era o centro da vida musical ludovicense, com a apresentação de concertos e corais.

Ao longo dos anos, durante o Brasil Monárquico, e após a fundação da República, as óperas apresentadas na capital ainda permaneceram cultuadas pelo público, com grande sucesso.

Se o teatro, durante o século XIX e o princípio do século XX, representava um espaço restrito, destinado apenas às elites, em São Luís, atualmente, o cenário é outro.

Grupos e companhias de teatro contemporâneos buscam democratizar as produções, temáticas e público, em São Luís. Dentre os expoentes deste movimento está o ‘EnCanto’, coletivo cultural atuante no segmento do teatro musical, com encenações que combinam dança, drama e música.

Em entrevista ao g1 Maranhão, o diretor geral da ‘EnCanto’ coletivo cultural, Nestor Fonseca, comentou suas percepções sobre o teatro apresentado pelo grupo e a sua relação com a cidade.

“Por conta da relação que nós [como população] temos com as nossas lendas, com a nossa cultura, com as nossas relações interpessoais calorosas, e a nossa relação com o divino, com a fé, eu acho que todas essas coisas costuram, desembocam e influenciam diretamente a nossa música e o nosso teatro”, avaliou.

Nestor Fonseca é ator, cantor, produtor e diretor de teatro musical. — Foto: Arquivo pessoal

Nestor Fonseca também afirma que a aura musical de São Luís é um elemento que tornam únicas as produções realizadas pelo ‘EnCanto’.

“A gente [no coletivo EnCanto] faz um teatro musical quase clássico, no sentido de formato [do teatro da] Broadway norte-americana, com toda a influência que a Broadway tem sobre o mundo ocidental; sobre o teatro musical do mundo ocidental. No começo da nossa história, quando a gente começou a trazer algumas pessoas do eixo Rio São Paulo para fazer as primeiras montagens, os primeiros cursos aqui, com a gente, era interessante que todos eles, de forma unânime, comentavam da nossa musicalidade; da nossa facilidade, com inclinação natural, cultural”, relembrou.

Sobre a importância do teatro na identidade e na vida cultural de São Luís, Barbosa diz:

“Acho que a gente precisa olhar para dentro. Penso que é importante aproveitar o aniversário da cidade e presentear a cidade com olhares para dentro, para os nossos artistas. Tem muita coisa boa sendo feita aqui, mas que não ganha força, não ganha amplitude, por falta de patrocínio, porque as pessoas ainda não olham. Então, eu acho que o maior presente que a gente pode dar para a nossa cidade, hoje, é olharmos para dentro: para a nossa música, para o nosso teatro, para o nosso teatro musical. Tem muita coisa boa sendo feita aqui”, enfatizou.

Música popular plural

Os bares da capital mantêm a tradição de músicos há muito tempo. Quer sejam artistas amadores, ou, ainda, músicos com vasta atividade, queridos e conhecidos pelo repertório.

Nos últimos anos, porém, as novas gerações de cantores e compositores que atuam em apresentações na noite ludovicense vêm substituindo a interpretação de canções conhecidas do grande público, por composições próprias, nos mais variados estilos.

A cantora e compositora Clara Madeira, de 23 anos, integra este momento particular na música de São Luís. O seu trabalho é divido entre o magistério na área musical, as apresentações em bares, e os shows próprios. No seu repertório há músicas autorais, além de canções assinadas por outros artistas da capital, alternando estilos, como a bossa nova, o rock e a MPB.

A cantora e compositora Clara Madeira se divide entre o ofício de professora e artista, em São Luís. — Foto: Divulgação/Redes sociais

Clara Madeira ressalta, em entrevista ao g1 Maranhão, que são muitos os desafios enfrentados pelos músicos locais para a consolidação de uma carreira. Apesar das dificuldades, o esforço, diz ela, é compensador pelo carinho do público.

“O apoio da cena musical na cidade vem do público, que conhece e consome os artistas conforme a arte destes chega no universo daquele ouvinte. As redes sociais são um canal direto com o público, então os artistas, em sua maioria, fazem das redes uma aliada na divulgação de trabalhos, fora a aproximação que as redes trazem entre público e artista. Percebo que artistas próximos têm se mantido alinhados com isso tudo, em relação ao uso da internet. Em contrapartida, é problemática a relação entre os espaços ocupados pelos artistas locais e nacionais, quando estes se apresentam aqui. Merecemos ocupar os mesmos palcos e merecemos, mais do que nunca, receber um tratamento que artistas grandes recebem. O desrespeito começa desde a negligência com o pagamento até oportunidades de divulgação e visibilidade, muitas vezes dificultados”, explica.

As oportunidades que a música representa, em sociedade, são lembradas por Clara Madeira como um poderoso recurso para a promover mudanças em São Luís.

“Além de artistas locais, músicas autorais e programação cultural, São Luís também é uma cidade de projetos sociais importantes. Por exemplo, o Núcleo Arte-Educação (NAE), que promove aulas de música, dança e teatro; o projeto ‘Batucando Esperança’ e a Banda de Música do Bom Menino. Esses projetos apresentam a música e suas linguagens para crianças e adolescentes que precisam ter essa vivência, não para se tornarem músicos ou concertistas, mas para se aperfeiçoarem como indivíduos pertencentes a uma comunidade, com repertório e conhecimento de arte, usufruindo o tempo de qualidade que a música pode proporcionar e, por último, sim, com a possibilidade de se formarem grandes músicos”.

O feminino na música da capital também foi uma conquista, segundo Clara. Com mais cantoras em cena, há oportunidade para que mais mulheres se sintam livres e seguras para expressar a sua arte.

“A cena musical está cada vez mais cheia de personalidades femininas, e me incluo nisso. Tenho muitas delas como referência artística. De uns anos pra cá, as cantoras começaram a ganhar mais espaço, e eu sinto que uma [artista] vai vendo a outra fazendo o seu trabalho, promovendo o seu próprio evento, a sua própria música e, com isso, vai se inspirando; vai querendo fazer mais e mais”.

Link original da notícia: https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2023/09/08/411-anos-de-sao-luis-conheca-a-variedade-do-cenario-musical-da-capital-maranhense.ghtml

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