Nesse contexto, o médico epidemiologista e professor da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz — Antonio Lima produziu o artigo “Impact of CoronaVac on Covid-19 outcomes of elderly adults in a large and socially unequal Brazilian city: A target trial emulation study”.
A pesquisa (“Impacto da CoronaVac nos resultados da Covid-19 em adultos idosos em uma cidade brasileira grande e socialmente desigual: um estudo de emulação de ensaio alvo”, em tradução livre) avalia a efetividade da vacina sino-brasileira contra desfechos desfavoráveis graves ocasionados pelo coronavírus na população idosa da cidade de Fortaleza.
Conhecido como Dr. Tanta, Antonio comenta que a CoronaVac foi a primeira vacina disponível durante o momento mais letal da pandemia no Brasil, com uma conclusão do esquema primário de duas doses em 28 dias. Esse período é considerado curto, mas foi necessário em uma situação na qual era preciso criar uma barreira imunológica contra o vírus o mais rápido possível.
Antonio Lima, conhecido como Dr. Tanta — Foto: Ares Soares
“Era um esquema mais curto do que o recomendado para a vacina Astrazeneca-Oxford, que propugnava um intervalo entre as duas doses de 90 dias. Naquele cenário, precisávamos construir uma barreira imunológica coletiva e proteger as pessoas (individualmente) o mais rapidamente possível. Dessa forma, o estudo buscou avaliar a efetividade da Coronavac utilizando um desenho metodológico de maior poder, inédito no Brasil, que simula um ensaio clínico (target trial emulation study).” — Antonio Lima, médico epidemiologista e professor da graduação em Medicina da Unifor
Foi verificado no trabalho se a vacina teve a capacidade de proteger os pacientes infectados contra a hospitalização, tanto em leitos de enfermaria quanto nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), além de evitar mortes.
A pesquisa destaca-se pelo fato dos ensaios clínicos randomizados em torno da CoronaVac para avaliar a sua eficácia em idosos terem sido limitados. Com isso, foi possível esclarecer informações importantes sobre a aplicação dessa vacina na cidade que tem a quinta maior população do país.
Participaram do estudo Higor Monteiro, Humberto Carmona e José Andrade, docentes da Universidade Federal do Ceará (UFC). Também fizeram parte da equipe Rebeca Kahn e Márcia Castro, ambas do departamento de epidemiologia da Escola de Saúde Pública de Harvard, e Geziel Sousa, da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS-Fortaleza).
Métodos
Para a produção do artigo, os pesquisadores utilizaram a estrutura de emulação de ensaio alvo. Dessa forma, analisaram uma coorte retrospectiva com 324.302 idosos de 60 anos ou mais. Os dados utilizados, datas de testagem e vacinação contra a Covid-19, foram apurados no registro estadual IntegraSUS e no municipal Vacine Já.
A amostragem da pesquisa analisou 324.302 idosos que receberam a CoronaVac em Fortaleza — Foto: getty images
Os indivíduos estudados receberam a vacina da CoronaVac entre 21 de janeiro de 2021 e 31 de agosto do mesmo ano. Eles foram pareados com pessoas não vacinadas no momento da implementação da metodologia por meio de uma proporção 1:1 a partir de covariáveis (pareamento por idade, sexo e IDH do bairro de residência).
Além disso, a efetividade da vacina para cada desfecho (hospitalização, UTI e morte) foi calculada com a razão de risco obtida através do método Kaplan-Meier. Esse recurso é utilizado para estimar a probabilidade de sobrevida em vários intervalos de tempo e para ilustrar graficamente o decorrer de um período.
Para mais, o professor Antonio e sua equipe estabeleceram uma janela temporal para analisar a eficácia da CoronaVac, sendo essa 13 dias após a aplicação da segunda dose. Após esse período, foi feita a análise de sobrevida entre o grupo de vacinados e não vacinados.
Resultados
Com os métodos utilizados, os pesquisadores chegaram a importantes conclusões sobre a eficácia da CoronaVac, atestando assim que ela foi fundamental para o combate do Coronavírus. Observou-se que a vacina sino-brasileira conferiu uma proteção de:
- 82% contra a morte,
- 68% contra internação em UTI,
- 56% contra hospitalização.
Ainda notou-se que, após duas semanas da conclusão do esquema primário — ou seja, o indivíduo ter recebido a primeira e a segunda dose da vacina —, a proteção contra o vírus se estabeleceu significativamente.
Mediante o estudo, que forneceu resultados comparáveis e novos insights sobre a campanha nacional de vacinação, concluiu-se que a CoronaVac é eficaz contra desfechos graves relacionados a Covid-19 em idosos adultos.
“A CoronaVac foi crucial para evitar mortes e morbidade grave (complicações que demandariam hospitalização) devido à Covid-19 em idosos no período mais letal da pandemia, quando era a única vacina disponível com intervalo mais curto entre as duas doses do esquema primário”, afirma Antonio Lima.
Publicação Internacional
Com importantes resultados trazidos por meio da pesquisa, o artigo dos pesquisadores foi publicado em 10 de agosto na revista Vaccine, periódico conhecido por publicações de ciência da mais alta qualidade em todas as disciplinas relevantes para o campo da vacinologia.
O veículo científico aborda temas em pesquisa básica e clínica, fabricação de vacinas, histórias, políticas públicas, ciência comportamental e ética, além de muitos outros ramos relacionados ao assunto. O periódico ainda se destaca por ter CiteScore em 7.7 e fator de impacto de 5.5.
Link original da notícia: https://g1.globo.com/ce/ceara/especial-publicitario/unifor/guia-de-profissoes/noticia/2023/08/30/artigo-analisa-impactos-da-coronavac-nos-resultados-da-covid-19-em-fortaleza.ghtml